Entro nesse beco que per si excita-me, e arrasto os dedos numa leve caminhada sobre a estante que me cerca. A mão esquerda levantada, batendo e batucando contra os objetos que se depara. Faz-se silêncio. Cabe ao leitor procurar e encontrar as coisas pelas quais se irradia. Apeteço e como se fosse possível escolher um desses objetos para debruçar longos cinco minutos, como se os dedos pudessem se governar propriamente, sem arremessar a tarefa ao raciocínio; como se esses dedos fossem capazes de apontar aleatoriamente para um desses objetos e fosse, a mim, indispensável direcionar o olhar para a coisa selecionada, e compreendê-la avidamente no jogo dos sentidos, sem tomar um trago de ar, sentindo o oxigênio rarefeito bater no fundo das moléculas pulmonares, o impulso vacilante, as entranhas assumidas, ingovernáveis. Nesse segundo, com as mãos e os olhos estendidos, perco a fé que tudo isso se sucedera e balançando a cabeça, por vencido, lembro que são os livros que escolhem seus admiradores. E não o contrário.

1 comentários:

Francis Martin disse...

Lí seu texto e um poema, gostei dos dois, temos um estilo parecido, muito bom, muito bom!