Meus vinte e dois anos chegaram até a mim
Como uma faca decepando e polindo a corajosa
Tábua que o marceneiro ergue diante dos olhos.
Meus anos vieram como fios
Incendiados
Por um tecelão louco e
Apaixonado
Pela moça que os encomendaram.
Os meus derraparam dentro de mim
Como os livros de Vinicius
Ensaboados
Por uma poetisa católica que acabara
De conhecer o poetinha
Venerado
E suas preciosas impurezas.
Meus 22 fugiram do universo
Onde habitam os números
Atravessaram cálculos, medidas,
Raízes quadráticas
Para albergar no meu coração
Distante da aritmética.
Meus vinte e dois anos,
Exangues, sanguíneos
Na noite passada arrumou encrenca,
Arranjou dinheiro em penca,
E fugiu sem bagagem
No rabo de uma miragem.
Meus anos viajantes,
Deitou seu corpo no trilho
Leu seu último filho
Refletiu um bobo trocadilho
Para dizer as amantes.
Meus senhores vinte e dois
Subiu um regalo
As dores que expôs
Amores e calos
Emblemáticos doces abalos.
(Bruno Silva, 31/07/12)
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