A história começa sob
a luz fraca de um
charmoso bar em Feira.
A doce garota insinua
seus verdes olhos
em minha direção
e a noite, desfalcada, ganha vida.
Tudo nela arde intensamente,
cardume olfativo de belezas
não me deixar reparar em nada mais
se não em suas curvas e em seu cheiro.
Olhando-a deixo impedido
o tempo de contar
suas habituais horas
e o universo se deita entre nós.
Uma gota de meu martini
resta nua, isolado em minha lingua
sinuosa e apurativa, reflexiva.
Vejo-a partindo em direção a porta
e meu coração acelera, melancólico
de saudade, e cada passo faz soar
o ruidoso salto em minha percepção.
Vejo-a indo embora,
enquanto ancora a bolsa azul
debaixo dos braços
com os pensamentos longe dali.
Não posso fazer nada,
estou acompanhado,
minha namorada me olha,
estanque, talvez consciente,
talvez apurando o estranho silêncio.
Passaram-se doze segundos,
não posso repetí-los.
Ela partiu,
minha dor não.
E então sobra a gota
nua de martini
acidificando o beijo que darei
em outra, minha namorada.
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