Sinto ainda o cheiro dourado caindo dos cachos dos teus cabelos e inundando meu olfato com aquele aroma que só a lua cheia expele. Sinto a tarde de verão correndo, os meninos jogando bola na calçada, as senhoras circulando com pacotes de comida, o cheiro do bolo que tua mãe fazia e você mentia pra mim ter colaborado. Sinto ainda teus olhos se espremendo em busca dos meus quando me enxergava de longe; teu jeito doce de suportar um sorriso por uma eternidade, teus belos cílios dançando quando eu tocava teu queixo e colhia um beijo. Teus lábios suplicavam os meus. Viviam para decorar minha boca.
De repente seu pai chegava. Tua cor era outro. Tu escondias no céu dos olhos todo o desejo despertado, inflamado por mim. Inutilmente. Teu pai sabia do que padecíamos, meu amor. Teu pai já viveu uma paixão. Já ardeu o coração de uma moça.
Aí nos enrolávamos no receio daquele desejo. Até que teu pai fosse embora e você resgatasse aquele sorriso iluminado dos minutos iniciais. Derramávamos nossos instintos por todo sofá. A televisão era nossa cúmplice. O ruído e as cores invadiam nossos corpos chamuscados. Então a noite corria como uma locomotiva. E agora nossos corpos arrebentavam todo desejo humano de se tornar um. Envolvíamo-nos na fenda luminosa de uma pedra que alumia uma cachoeira. Tornávamos um oceano de cores, sais e aromas. Eu ainda sinto.
Bruno Silva - (abril de 2012)
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