Vácuo Poético


Não deixei nem mesmo ela respirar,
Ela aproximou e já desaguei minha ira.
Envelheci vinte anos no caminho ao seu encontro
Cheguei rude
Beijei rude
Um afago complacente,
Nenhum mistério no olhar
Em fúria, arrastei todas as palavras
Escondidas na dobras,
Nas esquinas
Das meninas.

O lábio enfraquecido,
Vencendo a tristeza de
Dizer aquelas que eram
Palavras tão,
Mas tão infinitamente
Angustiosas.

O olhar dela a me enfurecer,
Me escarnecer,
E havia um tom inapropriado em seus cílios
Sedutor.
E um cheiro de Gudang.
Detesto quando ela fuma
Sem me dar a imagem dela com os dedos finos
Segurando o cigarro entre os lábios.
Reparei, entre um argumento e outro que
Meu coração nem batia,
Palpitava sim afiadas sensações
De não deixar nada para trás.
O hoje e o agora evidenciariam minha franqueza.
Sem mentiras, por mais que sinceras.
De minha parte, era desfecho.
Nem um facho de alegria em suas respostas.
Nem uma preocupação nas minhas.

Estava repleto de mim, me defendendo
A qualquer custo, sem pestanejar,
Deitar ou cair.
Ela acha o que? Que pode me manipular?
Pois desatei os nós.
Enfilerei as razões pra deixá-la para todo sempre.
Seu rosto expressava franqueza obtusa e um
Arrependimento frouxo, cínico,
Começou a rir um sorriso cúmplice
De uma cumplicidade que eu alegava não ter.
Deixei-me sorrir por alguns segundos
Mas retomei o passo
Queria ela longe,
De mim
De nós.

Sentia falta nenhuma daquele sorriso,
E me bastaria dar um ponto final:
Acabar com os ganchos, as pontas soltas,
Os caminhos de mão dupla.
Não pela natureza dos fiapos,
Sim por ela não saber manuseá-los.
Um abrasamento a me consumir,
Nenhum receio,
Parecia um coração parado e mudo.
Em um instante chequei minha respiração
Pra ter certeza que estava vivo.

E estava vivo,
Naquele momento só eu estava vivo em mim.
Nada mais, nem esse verso que vos fala,
Nem o canto triste das crianças ao relento,
Nenhuma fome tocava minha compaixão,
As contradições sumiram.
Deixaram um espaço largo e vazio,
Convincente e preciso
Completamente, e talvez, fatalmente,
Leal a si próprio.

Na praça ao lado um tom azul escuro
Soava ao fundo.
Uma música triste e cafona buscou me incriminar.
Mas não havia romantismo nenhum em estar
Sentimentalmente abalado.
O vento tentava levantar os cabelos dela,
Presos, porém, pelas mãos que os prendiam,
Em óbvio choque por minha
Completa e infinita sobriedade.
Nenhuma saudade.
Nem pingo e nem rastro de desejo.
Seu corpo parecia um corpo sem vida.
Um astro que caiu do céu, enciumado,
Vaidoso dos brilhos mais jovens
Mais latentes
Em cores vibrantes.

Ela estava num vácuo poético.
E eu, finalmente, incendiado pelo meu
Verdadeiro – embora transitório -
Orgulho de Ser eu.

Bruno Silva, Junho, 2011

1 comentários:

Anônimo disse...

Hoje pela primeira vez em tempo e nem sei pq abrir seu blog, alias ainda estou nele no mesmo poema que comecei abrindo "Vácuo Poético", doeu demais, pq a única coisa que eu queria que vc entendesse é que nunca tentei te manipular, com vc sempre fui sincera...sincera demais(não tentei me maquiar nenhum pouco pra vc, tvz esse foi meu erro), e tvz qd dizia que vc naum me conhecesse era mais uma permissão para vc me desvendar mais pq “achava” que vc tinha (em alguns dias quando não me fantasiava em seu erotismo) a capacidade maior até que a minha de fazer isso. Errei tbm pq fiz de vc( um simples mortal), qs um deus pra mim, sua alma me encantava, seu trejeito, seu mistério(principalmente seu mistério, que era pra mim o misto de droga que seguia o tríplice de prazer, fissura e enjôo). Coloquei em vc um cargo pesado, desculpa, foi isso que me fez ficar calada quando vc desabafava, calei por quê percebe o estrago que fiz, com alguém que achei que entendia meu olhar que toda vez o olhava dizendo vc é especial demais pra mim, calei também pq parei para ouvir todo o seu encanto caindo no chão, não havia mais mistério pra mim, nenhum pedacinho, a pessoa em minha frente era um ser que eu tentei desvendar demais ! Te olhei diferente de todos os outros, de todos que passaram por mim e até os que ainda passariam, mas vc não era diferente, não mais...(Não que vc seja mais um, só te fantasiei demais)desculpa, por isso tbm. Espero que um dia vc me perdoe. Agora acho que nossa amizade vai ser melhor, sem o meu fascinado mistério por vc, o menino que conquistou minha amizade lendo os meus olhos(E eu acreditei)...
E SE ACASO O QUE ESTÁ ESCRITO AÍ EM SEU TEXTO NÃO FOR PRA MIM, ME SERVIU DE ALGUMA FORMA! AGORA TIREI DE MIM O DEUS QUE TE FAZIA...
Acho que naum é preciso assinar!