Bruno Silva
Porque as pessoas puxam saco eu não sei. Mas a visita da futura presidenta a Itacaré têm levantado motivo de sobra pra se perguntar isso. Não exatamente porque o prefeito, Antônio Mário Damasceno preparou uma moqueca de afabilidades pra agradar Dilma Roussef, além de ter fechado a entrada da cidade de laços e rosas, tudo para que nossa recém eleita presidenta tenha a melhor estadia, com o objetivo de que esses primeiros dias dela no poder sejam inesquecíveis. No caso, investir na hospitalidade e recepção é vantajoso do ponto de vista político. Tudo me leva a crê que enfeitar os aposentos da mulher mais influente do Brasil, nos últimos tempos, alteada pela revista norte-americana Forbes como a 16ª pessoa mais poderosa do mundo, é, sobretudo, um mimo político. E um exagero cafona.
Os moradores da cidade que atribuíram 74,77% dos votos a Dilma estão colhendo amoras para ofertá-la. E não é só isso, o Txai, resort que a acolheu dignamente prometeu um banho de pétalas sobre ela nessa tarde de muito calor, jogadas de um helicóptero particular que disponibilizaram pra Dilma fazer seu tour. Serão dias de muita inspiração pra presidenta, e como no filme Show do Truman, tudo parecerá limpo, agradável, irretocável. Mas nem esse momento de descanso para nossa futura presidenta significa dias melhores pra nossa querida cidade que, salva pelos feriados longos e virada de ano, tem respirado mal sua economia. Truman, vivido por Tim Carrey, anda no limite de saber o que considera real e o que foi preparado apenas pra ele. Produzido em 1998, a pelicula já antecipava os altos esforços investidos na realidade inventada, atualmente reproduzido pelos realities em favor do marketing. E agora presente em Itacaré.
Uma cidade turística também vive dessa realidade inventada. Itacaré é uma cidade altamente linda, rica em reservas naturais, com paisagens pinceladas por anjos, mas sofre na mão de alguns políticos que vê no potencial da cidade, uma forma de enriquecer suas vidas. Com uma população estimada em 17.960 habitantes, ainda padece de investimento em infra-estrutura, esporte, lazer e outras áreas, por falta de vontade política. Não existia até alguns meses, no princípio do ano, nenhuma efetiva secretaria de esporte e lazer que pudesse alimentar a cidade de eventos importantes e chamasse a atenção dos turistas para circuitos esportivos. Isso numa cidade que acumula alguns talentos dos esportes radicais, campeões do judô, campeã mundial de canoagem Marta Ferreira, etc. No papel há sim uma Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Cultura que reúne tantas funções que não consegue promover nada de destaque no terreno baiano. Uma lamentosa crise administrativa.
Não para por aí. Com um comércio atormentado pela baixa estação, Itacaré, desde 2005 vê seu contingente turístico fugindo pra outras regiões melhores estruturadas, onde o bem-estar da população está acima do cabedal de interesses pessoais da administração. Itacaré, exceto em alta temporada quando, mesmo esprimido pela multidão, em tudo parece pairar a beleza celeste, é muito mal manejada pelo prefeito que apesar de ter instalado algumas dezenas de cestas seletivas de lixo, não consegue esconder sua sujeira. E tem visto sua parcela de companheiros políticos abandonarem o barco como o próprio vice-prefeito, Rosival Oliveira, que anda afastado dele desde as acusações contra o prefeito de desviar verbas federais, mais precisamente da merenda escolar.
No final, não vale saber porque as pessoas puxam saco. Mas porque elas sorriem, plasticamente, quando tudo não está bem. Não sei. Mas o povo brasileiro, e itacareense, não é o responsável por essa faixada inventada para a presidenta, onde tudo parece estar no clima de paz e amor. O povo, por sua vez, sentindo calor e impaciência, mantém a faixa de boas-vindas suspensa no sol ardente do litoral baiano, enquanto nossa futura presidenta desfila de maiô dando thaul pros golfinhos. Então seja bem vinda, presidenta. Ou “Bienvenue” como jaz na placa de entrada da cidade.
Bruno Silva é estudante de Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana e poeta nas horas vagas.
2 comentários:
Um palhaço de verdade em Brasília não poderia vir em hora melhor. Pão e Circo agora será mais "formalizado".
Dizem que para mudar o mundo é preciso dar três voltas ao redor da própria casa... Estes políticos estão mudando, reformando e comprando mais não só casas, mas tudo que julgam ter direito - com dinheiro deles? Quase nunca. Enquanto isso o povo segue seu destino, pedindo, bajulando, na esperança de algumas migalhas caírem despercebidas das mãos dos Chefões.
Espero que isso resolva algo, e que a nossa futura presidente não se esqueça do que prometeu. Se bem que, se puxar saco resolvesse alguma coisa, a minha cidade já teria virado uma metrópole.
Lendo esse post, lembrei de uma frase que ouvi da minha chefe no trabalho. Quem não puxa saco, puxa carroça. rsrsrss.
Postar um comentário