Os livros acabam.

páginas e páginas de vida
carentes de serem reescritas.

dedos convulsos a perseguir o teclado
esse verso foi meu, há tempos, agora é nosso.

o que há de reescrito nele?
o teclado mudou. os dedos enrrugou. o movimento forçou.

não. nada disso. tudo é o mesmo.
li o mesmo livro que leram a mil anos atrás.

eu e você somos o mesmo. pare. entenda.
você continua a assanhar as minhas entranhas.

meus dedos loucos por atravessar o seu corpo
e nada deles conseguirem.

você leu o livro que te dei
e que tantos deram a tantas pessoas?

e nada mudou. nem um verso lhe consumiu?
lhe tragou? lhe mascou? e te trouxe de volta, nova?

você é o que mesmo?
porque continua a insistir nessas suas frases, soltas.

exausta, com os cabelos lavados e talvez secos pela brisa.
me olha a frente do caz, deixada aos ventos alisios.

e devagarinho repete tudo de novo,
palavra por palavra:

os livros acabam.
e a gente continua.
(Bruno Silva)

3 comentários:

Nathy disse...

Que poema lindo!!! Gostei. Parabéns pela sensilibidade e belas palavras! :)

Beijos!

Graziela Sá disse...

A gente devia ter um carimbo que, ao entrar no teu blog, simplesmente fizéssemos uso dele... e nele viesse escrito todas as formas de elogio para sua sensibilidade e seu texto tão visceral, tão autoral.

Mas aí...

...poxa!!!! aí não seria natural, e voce merece a nossa naturalidade ainda que ela seja simplória, comparada a grandiosidade de tua pena.

Hoje, não consigo nada inédito para te elogiar, fica então com um muito obrigada, simples na forma, gigante na generosidade e na verdade de agradecer voce!

Beijos, meu amigo poeta!

Camila Monteiro disse...

Adoreeeii!!!!
Parabens pelas palavras tao bem usadas sempre!!!