Acordei por volta das 11 horas. As coisas de fora vacilando sobre o chão azul rutilante. Não era terremoto, na verdade, foi aquela sensação após um pesadelo que acomete de fora pra dentro e insinua que a manha começou mal e pode, certamente, piorar. Tava chovendo. Um vento levemente doentio arqueou parte do meu lençol me concedendo a impressão agonizante de ser despelado vivo, o frio arrastava a carne exposta aos seus efeitos.
Não obstante, uma casca de bala percorre todo piso, levada por determinada força invisível que a satisfaz e a reduz a poeira. Sinto-me casca de bala lentamente deslocada pelas forças da vida efêmera e abstrata e cujo desejo é somente viver, e como se não bastasse ainda aguentasse o peso de já ter embrulhado algo muito doce e que derreteu. Sem delongas, reconheço o eco do silêncio de quando o vento se desfez entre brumas e desapareceu. Apanho o celular, vejo as horas e pulo da cama.
Começo a brincar com as palavras livres no meu intelecto enquanto me visto para comprar o café. Chego ao mercado da esquina, e com cara de tolo busco algumas bolachas que possam interromper o meu desjejum. Ainda com a cara de tolo, chamo algum atendente.
- Não existem bolachas que prestem? As bolachas estão mofadas, feito meus sonhos, meu senhor. Porque diabos o senhor não troca essas bolachas velhas por biscoitos novos? - falo com voz de tolo.
- O senhor, que mal varia os próprios sonhos quer dar palpite sobre as bolachas alheias? Faça-me o favor – respondeu o jovem de sapatos lustrados, camisa amarela e limpa, tão somente limpa que seus dentes amarelados combinavam bem. E falava com autoridade, repugnância e ameaça.
Perdi as palavras. As mesmas que mais cedo eu jogava para as paredes tolas do meu quarto. Tanto tempo que aquelas paredes não me satisfazem boas noites, pensei enquanto o senhor ainda esperava alguma resposta.
Desconsiderando tudo, sai com o estômago cheio de buracos. Queria vomitar, naquela mesma esquina, parte do meu estômago cru. Decidi por bem desistir de comer algo, e retornei para meu quarto. O mesmo quarto de sempre. A mesma cama defronte a janela, que de manhazinha, me proporciona os ventos mais alísios e os sonhos mais intrépidos. É bom ou ruim ser casca de bala?
2 comentários:
Não sei bem, mas senti falta de algo aí.
Muito bem notado. Faltava aí, um pouco de mim. Mas irei resgatar esse eu que escondi essa semana. E pra já. Obrigado pelo carinho de suas mensagens!!
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