OFF

controle_remoto_thumb[5] E quando todos desligam as luzes. E as portas se trancam. Eu fico aqui sozinho, conversando com o chiado da TV dessas madrugadas de chuvas fininhas. Nada quer ser real, a felicidade se fantasia de livros, de programas bobos de humor, de céus abrilhantados, que espiados por mim, cutucam e despertam uma vontade desesperada de ser feliz. Não há ilusão. Não há sede de que o telefone toque e a mão trêmula atenda. Não há dedos que desejem discar o seu número. Não há número. Está tudo apagado. Como as casas dos estranhos. Como os letreiros do centro. Como as velas do funeral. Já parti. Já doeu demais. Já faz horas que eu não conto mais os minutos. Não há mais minutos que caibam os nossos sentimentos. Acabou. Adoeceu em overdose. Morreu entre remédios. Nem houve desejo seu. Nem houve orgulho meu. Não houve se quer a sinceridade aliada de sempre. Não houve nada. Você não quis ser infeliz comigo. Agora seja infeliz sozinha. Somos agora uma página limpa do Word que se mancha de uma tinta que nem mesmo existe. Porque sempre foi assim, sempre foram palavras digitadas, equivocadamente, enviadas. Não haverá mais lamento. Não haverá mais tormento. Porque agora não passamos de ‘um programa de televisão que saiu do ar, e como ninguém desliga o aparelho de TV, fica aquele chiado incomodando no escuro’.

Bruno Silva

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