Um Poema profano e um Fragmento de dor




Oração em Silêncio


Fui a um templo
Procurar paz,
Mas eles gritavam tanto
Pra Deus ouvir,
Que não havia espaço
Para sentir mais nada,
nem Deus, nem os ouvidos.

(março de 2014)



A Beleza e a Dor

Palavras bonitas. Eu já as conheço de longa data. Fui criado com elas. Fui crescendo ouvindo o tambor de suas surdas vozes tilintintar nos meus ouvidos. O estampido de seus interesses reais, sim, me apavora. Enquanto o discurso é montado e em cima do palanque o enfático e doce interlocutor expõe as tais palavras bonitas, minha razão chora. E por diversos motivos. A nefasta lógica por detrás daquelas palavras que soam belas e aprazíveis. O engenho precário e falacioso delas. O amor exposto como carne em açougue local. O perdão devassado. A solidariedade prostituída. Aquelas leis, mortas e sagradas, fortemente induzidas e manipuladas pelos sentimentos inferiores do mundo. Palavras bonitas. Eu já as conheço de tempos distantes. Se alguma vez elas me tocaram à alma, o fizeram não por merecimento, mas pela intensa ingenuidade dos anos que precede a maturidade. Entretanto, é bem certo, estas palavras moralmente ambíguas que me atingiram, jamais aplacaram a minha mais íntima dor. A dor diante da existência e da racionalidade perversa que pode haver na beleza. E a beleza, perante minha dor, não é nada.

Bruno Silva

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