Rotinas Urbanas



Apanhei um ônibus para o terminal norte, exausto e inspirado, como quando acordamos no meio da noite excitados pelo dia seguinte. Ao chegar no interior do terminal, ligeiro e atento, busquei uma van para trazer-me ao destino, em casa. Vasculhei letreiros e identifiquei um veiculo que me levaria ao bairro meu. Entrei. No percurso um sujeito com ar de criminoso também entrou e sentou-se ao meu lado. Guardei o preconceito na manga e me policiei para não incomodá-lo. Algum tempo depois, quando o silêncio fazia filhos, o sujeito desabotoou o bolso do próprio short, com cuidado, e começou a remexer algo nele. Os passageiros paralisaram. Uma moça, no meu outro lado, respirava como se o ar estivesse extinto, chocada. O sujeito tirou um objeto do bolso, abriu o maço de cigarros e embrulhou algo – tudo de maneira suspeita. Quando vi as luzes fracas de meu bairro, senti um alivio imenso e me empurrei na direção da saída. Já não posso dizer quantos passageiros morreram na van depois que sai.

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