Abismos Estrelares


Diante das paredes brancas da igreja, optei pelo silêncio negro das duvidas. As duvidas me fizeram um sujeito forte. Um sujeito capaz de ter fé em si mesmo e aceitar a bela negrura da alma humana. Deixei de praticar minha dolorosa fé para senti-la, de corpo e espírito, dentro dos pecados; onde na intimidade das fraquezas moram os vícios, vivem também a maior riqueza do ser humano, sua verdade. A única qual não será usurpada pelo violentador que arrasta suas correntes distribuindo culpa, semeando desamor e provocando ressentimento até nos pequenos prazeres.

Apenas quando minhas manias foram expostas a mim mesmo, pude as controlar, as reduzir, as aceitar. Não tenho receio dos muros erguidos dentro de mim, dos calabouços cavados na memória, dos excessos que o coração me prega. Num mundo caótico, tenho medo é da ordem, da fala rígida que expressa mandamentos, da lei que não conforta, do líder, da reputação - não a de alguém em específico - a de todos.

O louco dispara suas sentenças numa multidão. E não se pode diferenciar a loucura do grito. Isto sim me preocupa. Há uma loucura corrosiva pronunciada belamente. E há inúmeras loucuras capazes de salvar almas, embora estejam escondidas, longe dos sacramentos, distante dos livros de ouro, ausentes dos grandes círculos, anônimos aos olhos do deus que os templos anunciam. A esta emoção denuncio minha fé. Tão negras quanto os céus em abismos estrelares, tão doces quanto juras de criança, tão vivas, tão lúcidas, tão espetaculares e mesmo assim tão somente minhas, irreproduzíveis, irrepetíveis, inesquecíveis. Confesso e professo minha fé, minha parcela irrenunciável de loucura, minha quota de amor pelo desconhecido, meu vasto sentimento pelos ornamentos da minha alma. Essas são as minhas estrelas. Seu brilho nunca se apaga. E quando se distancia, risca luminosamente uma trajetória bela e lunática.

Bruno Silva

1 comentários:

Lilian Negrini disse...

Maravilhoso!! Expressou o que eu tb tentei dizer, mas de maneira diferente.
Amei.