Descobrindo Lisboa

Texto 9:


O por-do-sol de Belém
Lisboa é uma amostra colorida e enfeitiçante do mundo. Na beira do Largo de Camões, estendido junto ao chão um pano imenso com echarpes coloridos à venda. A vendedora, uma indiana morena com sotaque inescondível, me alertava que eu levasse logo o cachecol selecionado antes que a policia chegasse e interrompesse o negócio. O medo e o suor enxaguavam o rosto da senhora emergindo-lhe uma empatia clandestina e as luzes coloridas do natal davam-lhe um aspecto particular de sua cultura como se, dentro de Lisboa, também estivéssemos mergulhados numa das ruas abarrotadas da capital indiana Nova Délhi.
Lisboa é sussurro da história dos descobrimentos. A solidão vazante dos lisboetas se liquefaz nesta época do ano, natal e ano novo. A cidade vibra de estrangeiros e turistas, delatados sempre por seus enormes mapas empunhados debaixo dos braços e os nativos, inacreditavelmente, são muito bem receptivos a eles. Brasileiros estão aqui aos montes. Dobra-se uma esquina e se ouve música de todos os tipos – mas as brasileiras são as mais tocadas. Entre jazz e blues, o bairro alta é a corte boêmia deste império e por muito indicada como um dos mais românticos lugares pra se estar. E Belém, que paisagem linda, uma catedral de sonhos e fantasias – representa bem a grandeza e a derrocada do império lusitano. Os ingleses estão aos bocados também. Mas o tratamento dos lisboetas aos ingleses é excepcionalmente comum atualmente. Os alemães são os novos ingleses. Babados, mimados, queridos e amados. Até que a crise rompa este paradigma. Já tá em tempo dos alemães entenderem seus limites. Portugal quer respirar sozinha, tem uma costa oceânica suficiente para se comunicar com o mundo, como nos tempos antigos: desvendando novos mares. Já não há geograficamente tanto a se descobrir. O homem foi a lua. Provavelmente daqui a pouco vai preferir morar em marte a coabitar na Terra. Mas há hábitos novos e mais saudáveis a descobrir e acolher. Lisboa já tem esta faceta. De toda Portugal é a cidade mais oxigenada. A cultura ferve. Um caldeirão em vapor.
Monumento  1º Travessia Aérea, em Belém
Lisboa é um banquete de pequenos prazeres. Seus castelos, arquedutos, museus, oceanário, torres, são deleites e viagens obrigatórias. A fundação Saramago é uma belíssima homenagem ao escrivivente português. As tardes demoradas que Fernando Pessoa tanto escreveu, estão lá, decoradas por seu por-do-sol único na beirada esvoaçante do rio e cortado pelo mar, como uma redoma de prazeres. Lisboa não faz promessas. As cumpre. E muito bem.

O Mosteiro dos Jerónimos em Belém
O contraste da crise e a beleza escultural, claro, é esmagadora. Enquanto os centros comerciais, na véspera do natal, enfeitados e lotados, enfrentavam a correria capitalista e a brutalidade de encontrar o presente ideal, do outro lado da rua numa igrejinha formava-se uma fila cada vez maior de crianças esperando um pedaço do pão natalino a partir da solidariedade franciscana, do pequeno e insuficiente excelso de generosidade, reproduzida no natal, esquecida nos outros trezentos dias. Lisboa é brutal em todos os aspectos. Para além de sua beleza histórica, está sua gente, plural, hospitaleira, fascinante em seu cotidiano vulgar. E suas ruelas fazem pontes diretas com o que há de mais rico na cultura européia. Unido modernidade e classicismo, Lisboa é um poete amado feito sob medida para poetas, cantores, admiradores e artistas de todo tipo. Em um próximo texto tento desmontar parte a parte minha viagem a esta delicia oceânica. A visita a Belém, o que encontrar no Oceanário, onde se divertir, o imperdível das exposições artísticas, concertos de Fado típico, o famoso pastel de Belém. E vou tentar upar algum video da visita ao  belíssimo castelo. Até já.
Centro comercial do Chiado

0 comentários: