Texto 8: Adeus Panthouse, Dezembro e novos ares.



Eu tinha noção de que dezembro seria um ruído na vida de todos intercambistas. Um mês longo, neste clima frio, as vésperas de datas tão familiares quanto dolorosas. Perdas, ganhos, despedidas, nascimento e morte. No caso, nascimento da figura cristã e o adeus a mais um com metas não cumpridas, como a academia protelada, a glicose exageradamente ingerida, estas pequenezas. Também significa renovação de expectativas, mudanças, toda esta parafernália emocional capaz de desestabilizar até um bloco de gelo num sopro.
Mas meu dezembro estreou ainda mais furioso. Amanheci o primeiro dia do natalino mês com o ultimato de que a minha casa, aquela composta por estrangeiros - agora já coadjuvantes desta aventura - que esta casa ia se desfazer. Mais um ingrediente perturbador neste espiral encandecido. Por questões relativas às despesas altíssimas e aluguel pouco em conta, os moradores - exceto eu - decidiram buscar um novo lar. Um a um, pouco a pouco, foi se despedindo. Para não pormenorizar este jogo de despedida, em resumo, restou apenas eu nesta casa - até próximo dia 21, quando o fim do mundo dará conta de todos nós. Pouco acredito neste fenômeno, porém prefiro me apegar a esta ilusão do que conceber esta realidade: A Panthouse acabou. Todos se foram. Os ex moradores, e agora eternos amigos, vieram buscar seus últimos e pesarosos rastros. Os penosos resquícios de nossas memoráveis histórias, pouco a pouco, deixaram de se acumular por sob as paredes deste castelo na rua pedro monteiro - onde promovemos as melhores festas, encontros, bagunças... e agora restará o consolo da memória humana, tão frágil quanto vulcânica.
Este texto, não por acaso, é um tentativa frustrada de envernizar as sinapses. O desejo de proteger este quadro de histórias, tantas tristes, mas o triplo de outras alegres e divertidas narrativas, todas exóticas um para o outro por se tratarem de estrangeiros de berços, todas comoventes por que o destino praticou seus truques para que os tripulantes da Panthouse fossem não menos que nós, este desejo é a missão do oitavo texto. Enfim, este é um adeus - não das pessoas, que estarão sempre aproximadas pela força do Facebook e em encontros marcados por este mundo afora, mas é um adeus ao momento. Nunca mais se repetirá na história dos próximos setembros, um igual a este, em 2012, quando havia na rua da biblioteca municipal, logo na beira do perfumoso jardim da sereia uma turma tão variada e genial. Nunca se repetirá.
Dezembro, no entanto, recepciona amabilidades. Este caldeirão europeu fervilha boas coisas para fazer, peças espetaculares estreando no calendário, como Doze Homens e uma Sentença, alguns shows, muitas doses de Shakespeare nas quartas dezembrinas, luzes decorando o centro – que a partir de agora remonta um ar cinematográfico dos filmes de Woody. Por fim, estas manhãs brilhantes de sol – tão cenográfico quanto uma flor de plástico – embora luminoso, orna bem com passeios de bicicleta, com tardes nas piscinas aquecidas, e a hora de fazer um tour pelos arredores desta cidade recanto, Coimbra.
Não vou me alongar. Este é mesmo um texto que me dói escrever, mas que é necessário. Não farei outras conversar, não tratarei de outros turbilhões de temas que andam acontecendo por aqui, como a estreia do canal Globo nas terras lusitanas – marcado também por visitas de Lima Duarte, Mauricio Kubrusly e outras atrações do assediado ano do Brasil em Portugal – sim, estou vivendo uma overdose de minha própria cultura circulando aqui. Deixo estes temas para outra época, quando também vou contar meus planos de fim de ano na Espanha, uma ideia louca de filmar e disponibilizar na rede alguns vídeos, muitos apresentando alguns lugares, outros enaltecendo a cultura local do pais. Minha história de um Dezembro na europa, finalmente, chegou.
Dezembro. Uma palavra que começa num ruído contínuo e termina como se o som pudesse desmoronar e romper o limite do tempo e do espaço. Dezembro, um recomeço lento e suave como um contraste do vermelho ao branco. Dezembro, um desenho brutal de que o futuro se aproxima.
Deixo vocês com um dos meus videos, é a minha gravação em turco de algo que escrevi para me despedir dos turcos (não está legendado, mas basicamente é um declaração de amizade e respeito). Ofereço aos leitores – e em especial a Yolanda, Alana, Juliana e tantas outras pessoas cujos feedbacks me deixam super estimado.

http://justbrunos.tumblr.com/video_file/37191306791/tumblr_meiktwJQLu1qg2rne


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