Texto 4: O idioma



O mês de setembro se foi e deu lugar a um outubro ainda mais lindo em Coimbra. Distante alguns dias do que deixei no Brasil, me vejo encarando cada segundo como uma vida inteira. Buscando experienciar verdadeiramente a cultura lusitana, me submeti de cabeça nos desafios que apareceram, sendo um deles, a língua. A língua nativa, curiosamente, é bem cuidado na formação das frases, mas falta-lhe a musicalidade que escorrega das falas brasileiras. No inicio tudo parecia desgrenhado, por vezes rude, pela maneira clássica que até o menos escolarizado diz qualquer palavra. Em seguida, o desafio de entender as aulas, em nossa própria língua, mas com um sotaque por vezes impenetrável. Foram muito tempo de atenção para se acostumar ao jeito português de espremer as palavras. Mas consegui superar. 

É então que me veio o segundo obstáculo, as outras línguas. Logo que cheguei a Coimbra, meu objetivo era residir em uma república, onde a língua oficial não existisse. Encontrei, procurando bastante, o Paint House, uma república de fronte da sinestésica Biblioteca Municipal de Coimbra. Era um convite aquela rua decorada por um imenso, arborizado e por vezes sombrio Jardim da Sereia. Comandada por um portuga, a Paint house alberga mais de dez moradores, nenhum que fale o português, e todos bastante receptivos a ideia de um brasileiro na casa. Foi então que me juntei aos moradores. No inicio era uma pequena Babel, um desencontro de línguas, porém com ajuda da mímica, do inglês, da boa vontade, fomos formando então uma pacífica residência incrustada no coração de Portugal. 

Portugal é um país repleto de belezas e de histórias. Gerações e mais gerações de conquistas, das grandes navegações e a áspera estagnação. Na contagem do tempo, não temos dívidas com Portugal. Na prática, temos muitas coisas semelhantes, como a língua e a tranquilidade parnasiana. Coimbra, por sua vez, é a cidade das capas elegantes, dos estudantes estrangeiros, a terceira maior cidade do país, com espirito de uma cidade enxuta e pacata. É a cidade dos Cafés, pequenos estabelecimentos que reúnem o melhor de um bar, padaria e lanchonete. Os cafés são lugares perfeitos para encontros ao fim da tarde, conversar com a gente daqui da terra ou resenhar com os amigos brazucas, que aqui estão aos bocados. 

Há muitos brasileiros em Portugal, segundo soube, vieram 1800 só neste ano. Muitos deles, desta conta imprecisa, encontrei aqui na cidade. Um gene brasileiro logo reconhece o outro. Na cor, no jeito mais atrevido ou, inquestionavelmente, no jeito fluido de falar. A despeito de ser brasileiro, aqui eu tive a felicidade de conhecer culturas que na Bahia não são populares. Descobri dizeres gaúchos que eu ignorava, outros hábitos, outras palavras – como borracho – e acabei sendo apresentado a muitos outros brasis… 

Os ouvidos portugueses estão acostumados com a fala engenhosa dos brasileiros. Além deles consumirem nossas novelas, muito de nossas dublagens, no geral, as rádios e danceterias tocam bastante a música brasileira. No último sábado, por exemplo, levei os colegas de república para conhecerem os mistérios do samba. Por tabela conheceram o bom forro xoteado da banda Samba Jah. Ficaram maravilhados. O caldeirão musical brasileira é impressionante. Ao som do batuque, no jeito de dançar, brasileiro é reconhecido pelo sorriso que esculpe no rosto. E a simpatia… que outra igual não há. 

Enfim, neste mês que se lança, irei começar a postar textos sobre os lugares imprevisíveis e excêntricos que visitei na velha Coimbra. Postar algumas fotos, talvez vídeos, para vocês se deliciarem um pouco com a história da grande Portugal e embarcarem um pouco nos monumentos que aqui descansam. Até breve!

Texto 1: Horizontes Baianos: minha turnê de despedida
Texto 3: Enfim, Coimbra!

1 comentários:

Danilo Moreira disse...

Cara, que bacana. Que essa viagem renda muitas histórias e momentos interessantes para contar.

Abçs,
Danilo Moreira

http://blogpontotres.blogspot.com.br/

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