Texto 3: Enfim, Coimbra!

O pôr do sol em Coimbra.
Parece ter demorado um bocado, mas finalmente chegou a hora de escrever alguns detalhes de minha viagem rumo a Coimbra. Vamos então!

O voo foi uma parte já interessante desta aventura. Não me havia caído a ficha até o último instante que o Brasil sairia de meus pés pra caber nas músicas e na saudade dos amigos e familiares - relativamente compensada nos laços que rapidamente formei com outros brasileiros aqui em Coimbra. A ideia de ser brasileiro vai conjugando raízes ainda mais profundas no momento da despedida. E foi o que me aconteceu. Protegido e instalado no avião, foi na decolagem, ao ver a Bahia já se desfocando ao longe, que eu disse adeus! ou até logo! ou até mais ver! Au revoir!

Cheguei em Lisboa numa manhã muito ensolarada e triste. Na companhia de outros brasileiros, fomos aprendendo os trâmites de uma cidade europeia já do aeroporto. Diferente de Congonhas e de qualquer aeroporto que se preze no Brasil, não havia pressa para nada e muitas filas (bichas no português nativo, nos próximos textos tenho histórias sobre como foi complicado entender os portugueses a princípio). Lisboa foi para mim uma travessia interessante e rápida. 

A beleza de Lisboa é explícita. Como metrópole, tem lá suas desvantagens, mas a harmonia e as construções contemporâneas unidas a outras estruturas rebuscadas formam uma visão espantosa e imponente. Quando atravessei Lisboa para tomar o trem, os cidadãos lisboetas ainda dormiam. (os comboios aqui são limpos, frescos e bastante calmos). E então me aconteceu algo intrigante. Eu havia mantido na superfície das malas, o plástico filme habitual que se usa para viagens internacionais, afim de que tudo se mantivesse preservado. Pois que foi uma má ideia. Os olhares dos portugueses para mim oscilavam entre repúdio e ojeriza. Sem entender, peguei dois comboios sem me atentar ao absurdo da situação, afinal, estava abatido da viagem; foram cansativas horas dentro do avião sendo pressurizado e despressurizado feito uma garrafa de refrigerante, os ouvidos queimando, os filmes multilíngues nas tevezinhas individuais que só testemunhavam ansiedade e expectativa, tudo isso contribuiu para que eu não entendesse o inconveniente. Logo percebendo que o plástico na mala era sinal de desconfiança - e não segurança como foi minha intenção - retirei o plástico, provocando muitas risadas dos passageiros.

Cheguei então em Coimbra, acolhido pela paisagem bucólica na beira do Rio Mondego. Faz muito calor aqui nesta época do ano. No primeiro dia, me concentrei em alojar minhas bagagens e circular pelas ruas coimbrenses. O sotaque, de longe, nem foi o problema ao perguntar onde se localizavam os lugares de meu interesse. O temperamento sim foi o obstáculo. Os portugueses falam contigo como se estivessem exaltados, ao mesmo tempo que não expressam nenhuma agonia em te dispensar logo. Pelo contrário. As pessoas, ao te passar uma informação, só faltam pedir que sente-se, tomes um café, converses as noticias do dia. São menos sorridentes e mais contidas que no Brasil, mas até o momento me deparei bastante com pessoas simpáticas, afinal, Coimbra exala os ares de uma cidade universitária, até auspiciosa se guardadas as proporções.

Muitas foram as surpresas desta viagem. Em cinco dias já consegui desenhar um mapa mental da cidade, traçar os lugares que frequentarei, entender um pouco dos modos e das tradições lusitanas, especialmente o que se come (achei as porções sempre menores, não se come em abundância nos restaurantes do centro, nem nas famosas cantinas universitárias - os bandejões do Brasil) o que se bebe (muito finos e vinho e tudo a preço bem agradáveis) o que se veste (merece uma postagem à parte as histórias curiosas dos trajes acadêmicos, as batinas, as capas e as fitas, além do famoso ritual de iniciação para se usar as roupas semelhantes as de Harry Potter e Hermione, com toda pompa e graça!)

Mas logo logo continuamos o contato. Escrevo agora de um computador no interior da Universidade de Coimbra, um lugar monumental, com suas imensas escadarias que formam um belo e pitoresco ambiente de estudantes frequentado por todas as nacionalidades possiveis. São quase 20 horas agora, o sol não demora a baixar e o pôr-do-sol é uma obra de arte inigualável em qualquer canto.

Até mais ver!

Texto 1: Horizontes Baianos: minha turnê de despedida
Texto 2: Rotas européias, expectativas e os três portugueses

1 comentários:

Alana disse...

Seu lindo! Apesar da falta de comentários escritos, venho endossar os ótimos comentários que ouvi de Ritinha e Yole hoje sobre esse relato. Tensa, mas também engraçadíssima chegada, viu! kkkkk Estamos acompanhando e enviando energias muito positivas pra vocês. Beijo, meu tchu!