Eu queria vestir um conto meu com tua pele, com teu beijo, com as marcas que deixastes por todo lugar nesta casa. A cerâmica vermelha, tua escolha, recebem o fardo de me ver deslizar por todos os cômodos, te procurando, te fuçando, como o cão que tu levastes.
Deixares um perfume de Carmélia que tritura meus suspiros. A nossa varanda continua intacta. Não há beleza em desposar dela, sentar-se e delirar com o brilho das estrelas. Nunca mais cheguei perto do canto que mais esposávamos. Sento, com a cabeça enterrada por entre os dedos, como que sentindo o meu fracasso pesar o volume de uma cabeça no poço das mãos. Com algo me ruindo sofreguidamente e sem o consolo de teu olhar, de teus cílios fartos estirando-se sobre os meus.
A ansiedade de tua resposta era uma âncora que me aparavas. Agora, que recebo esta tua carta mais cruel e mais sentimental, confessando seu amor por outro, envolvida em novo relacionamento, compartilhando a mesma lua antes só nossa, não vejo outro caminho. A virgem lua perdeu o mel azul que a encobria. Neste momento nada mais importa e ao bater a última palavra desta vil mensagem que lhe respondo, me atirarei da mesma sacada que alimentou nosso amor e será a minha forma menos cruel de terminar a carta.
(Bruno Silva - Novembro - 2011)
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