Farpas da alma

És pura obsessão
quando olho nas ruas
e vejo-te em retratos
que riem para mim, caçoantes.
e quando reconheço nas atrizes,
as tuas indomáveis formas,
teu jeito chuviscado,
teu gênio pouco fácil,
tua maneira de formar as palavras
e afogá-las no teu encanto.

Tua antissociabilidade
e insaciabilidade de pessoas
e teus cabelos insolícitos
embargando a tua voz cinza,
contra o vento,
completamente cinza de rouquidão.
deixo-me vencer por qualquer poesia
ao te encontrar em bobos olhares
em bobas vozes no emaranhado de minhas
questionáveis memórias.

Eis tudo que tenho seu,
sem rastros, nem precipícios,
nenhuma palavra esquecida no
cadernos desbotado,
apenas as memórias,
tão insondáveis e tão
cartilaginosas.
tu, objeto de minha cobiça, inexiste.
és em mim mais que sobras,
és dentro desse trovador,
as farpas da alma.

(Bruno Silva – Setembro 2010)