O céu de Lisboa





Queria eu tocar o céu de Lisboa
e ver no rodopiar de suas argolas de ar
o choro bravo de minha dor, cessar.

Queria eu o risco,
o arranho e os seus arranha-céus,
a impedir feixes,
enfeites de motel,
na suspensão do alvorecer, deixar vencer a noite,
em suas bordas marítimas, saudades e açoites.

Queria eu o trem,
arrastar-se na superfície de Belém,
como se eu próprio fosse o algoz,
amores distanciados por mares,
unidos por pontes. De amor veloz.

Queria eu trafegar em suas praças azuis,
Sentado, sentindo, viola ao lado,
Como um traficante
de seu fado e blues.

Queria eu ser e estar dentro de sua língua,
Nascer, crescer e morar, nas vértebras infindas,
Impulsionar o descompasso do poema lusitano,
Tingir-se em cor de seu soar insano.

Queria eu esquecer-se de pátrias e brasões,
Deixar pra trás brasis, brutais e bordões,
Alumiar os porões de ancas esquecidas,
Sentir amores alados,
conversas, sabor e brisas.

Entre jornais, morangos e flores,
Queria eu
Assentar o fado na roda dos escarnecedores,
Deixar o compasso arremessar-se infinito,
E togas e violas atiradas ao chão,
do céu doloroso mais bonito.

Queria eu o tempo,
que voa,
queria eu o vento
Lisboa.
Queria eu.

Bruno Silva 28/03/2014

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