Escrevendo Vertigem

Escrevo com medo de ser flagrado. Com um olho nas letras se empilhando penosamente, enquanto o outro mira bem fundo, as laterais do mundo. E não é por gosto que saboreio essa sensação conflituosa de pecado. É que ter como atividade o oficio de escrever, muitas vezes, torna-se ato de derrota, introspecção e medo.

Escrevo também com uma metralhadora apontada para o meu raciocínio. Eu lamento não poder desviar dos caminhos que as palavras – muitas vezes cavernosas e mal iluminadas – me conduzem até o sentido, o amor ou a dor não aplacada.

Escrevo, muitas vezes, com o objetivo de pintar meu mundo do branco silencioso que a paz carrega. Se fizeram guerras com minhas palavras, se com elas instalaram guilhotinas, cavaram calabouços, incendiaram fogueiras e pessoas, não foi diretamente de mim que colheram tais equívocos. Isso se deve à humanidade e seus naturais enganos.

Quando escrevo, dificilmente o faço em dias ensolarados, tenho pela estética e pela história uma ternura exclusiva, alimentada pela jovial sensação de que um mundo novo devorará este velho mundo de hoje; que as certezas esculpidas pelo barro estarão aprisionadas entre as muralhas dos ingênuos e a poesia será a mais adequada e brutal fonte de prazer e intensidade.

Às vezes também, me deixo a mercê da escrita, espichado ou reduzido pelos seus moldes e manobras fundamentais. Não há indignidade em deixar os impulsos sorrirem.

É um simples sorriso, muitas vezes, que me assopra a fresca e irrefreável vontade de escrever.

30 de setembro de 2013
Bruno Silva
 

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