Da ternura incandescente

[…]
Minha ternura tornou-se desproporcional a mim, e nunca mais caberá apenas no meu numero. Os meus olhos esbugalhados no final da noite fixaram-se na lua indecente que banhava a noite de um azul que nossos olhos condensados tentavam reproduzir, fracassadamente. Todos esses sentimentos não me caem bem, em tanta proporção, mas eu me visto e me revisto pra possuir todos, dizia ele. Nem posso traduzi-los e me espreme aquela angustia de estar onde não deveria estar. De não ser apenas olhos e bocas, sem réguas. Nossos órgãos alinhados.

Mas os cristais dos olhos desbotam quando retidos apenas na telinha da vida donde me ocupo mais dela, do que de mim. Ela me vive. Explicitamente, às vezes só resta eu, ela e pensamentos dela. E é quando cerro as pálpebras e posso sentir sua retina e pupila gemerem por mim. E não há pronomes (nem o nós) que desafie essa nossa confusa junção.

Eu preciso abandoná-la. Pra eu me caber em mim.

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